terça-feira, 18 de maio de 2010

Teu Gozo




Ela está triste, tudo deu errado. Coisas da vida, nem sempre a vida foi gentil.

Liga o computador e O vê lá, Ele lá... faz dois meses que não se falam, nem mesmo um “oi”, nada aconteceu, Ele apenas se afastou dela e ela obediente aceitou, ela sempre aceitará todos os desejos Dele, mesmo o de não falar com ela.

Ela chora, não por Ele... Ele não tem culpa da vida dela, dos problemas dela, ninguém tem, ela apenas chora porque dá vontade e alivia.

De repente Ele diz: “Oi”

Ela se assusta incrédula, Ele falou... tanto tempo ali, quieto, ignorando a presença dela sempre noite após noite. E ela responde... Ele pede pra vê-la, ela se mostra. Ele nota que nada está bem e diz que vai telefonar. Ela entrega o novo número... número com o mesmo código de área Dele.

Ele liga. Falam, ela chora, nada da conversa faz sentido, ela não compreende, na verdade ela nem O ouve, se sente indignada e emocionada de falar com Ele, cresce dentro dela uma raiva Dele, como some e agora assim, como se nada tivesse acontecido reaparece oferecendo a mão? Sem motivo pra tanto, ela apenas se sente abandonada e traída, sem motivos, quem entende os motivos de uma mulher?

Num dado momento ela ouve Ele dizer: “me dê seu endereço, vou aí te ver agora”, ela dá mas na seqüência responde desafiando – “não precisa vir se não for pra ficar” – Ele brinca, ri, diz brincando – “vou aí e te dou uma “bulacha” pra você aprender a não ser insolente” – ela mais atrevida ainda, cega de ódio revida seca e altiva no telefone – “duvido” – sabe-se lá cargas d´água por que ela transferiu pra Ele toda a raiva, indignação, tristeza que sentia, de repente toda a culpa pelas mazelas do mundo era Dele.

Ele desliga o telefone e ela pensa, agora se foi pra sempre.

Volta sua atenção para o computador... as horas passam o interfone toca.

Atende. O porteiro avisa, há um homem querendo subir. O ódio reaquece.

Abre a porta e espera que Ele apareça ali, se materialize na sua frente, Ele que ela sempre quis, agora Ele que ela tanto odeia.

Ali na porta Ele parece ser imenso, seus olhos estão injetados de ódio, um bicho, um animal pronto a atacar o pescoço da presa e vencer com um só golpe. Ela não o teme, o enfrenta, tem dentro de si tanta indignação que vira coragem de enfrentá-lo... olha dentro de seus olhos, encara, não será uma presa fácil.

Ele desfere o bofetão.

Arde... um calor percorre seu corpo magro e moreno e tudo que ela faz é erguer o rosto mais alto ainda e encará-lo profundamente. Desafiá-lo mais uma vez como quem diz: “Foi pra isso que veio? Pode ir agora.” Mas as palavras não saem, apenas o mira.

Ele ordena que ela se ajoelhe e se desculpe. Ela ri. Insensata. Insana. Louca. Como alguém em sã consciência ri de um sádico?

Ele desfere outro bofetão, ela o fita... e mais outro, ela reergue os olhos, desafia, encara, ri Dele, queixo e nariz nas alturas... Ele vai desferindo outros e mais outros cada vez mais fortes, violentos, sem piedade dando tempo entre um e outro, alguns segundos, pra ela decidir se continua ou se rende.

A sucessão de tapas vai modificando o espírito dela, ao poucos, gradualmente o ódio dela se dissipa, como areia que se esvai entre os dedos, escorre junto com suas lágrimas todo rancor, tristeza, dor de viver, é uma catarse e ela quando o fita agora, ainda relutante em se render, fita com ternura... ela levanta os olhos, pousa seu olhar cândido no Dele e abaixa o seu, doce, submissa, encharcado de lágrimas reverentes e sinceras.

Ele coloca a mão sobre sua cabeça e a empurra na direção do chão, ela compreende e se ajoelha, verga em direção a seus pés, desamarra seus sapatos, retira-os um após o outro, retira as meias e ali, umedece aqueles pés que ela tanto adora com lágrimas e beijos, lambe... pede desculpas.

Ele vitorioso se desvencilha e vai em direção a porta, ela num segundo pensa sem dizer – “esse fdp veio aqui só pra me humilhar – que seja, eu ser Dele”. Se arrasta aos pés Dele, pede pra que fique, Ele ri, ela continua, pede uma chance, Ele desdenha... diz a ela suavemente: “igual a você tem um quilo aí... você não tem nada de especial” ela implora que Ele a use, a tome pra si, que a queira, que não se vá novamente rumo ao silêncio.

Ele divertido diz – “me convença, você tem 3 minutos” – eis a missão impossível, como alguém que não possui nada pra oferecer pode convencer um Dominador que pode ter a submissa que quiser a ficar?

Destrambelhadamente ela começa a murmurar, a voz difícil... “eu não sou a mais bonita, eu não sou a mais inteligente, não sou a que mais suporta dor, mas eu sou a que mais confia... a mais obediente, eu sou a que mais respeita e admira o homem por trás do avatar e é só o que tenho a oferecer ao Senhor: confiança, obediência, respeito e admiração” e é tudo o que ela tem pra dar, ela não pode oferecer arroubos de paixão ou amor eterno, seria hipocrisia oferecer o que não se tem, ela ofereceu a verdade agarrada às suas pernas, entre soluços de sua boca saiu apenas a verdade.

Ele a segura pelos cabelos, os puxa feito guia e ela de quatro vai atrás Dele até o tapete, ordena que se dispa e ela num único gesto retira a camisola envelhecida como se derrubasse um império. Ele a coloca de quatro, rosto grudado no chão, braços esticados a frente da cabeça, quadril empinado e pernas arreganhadas numa reverência forçada e constrangedora, “Ele me vê por dentro de minha carne” pensa ela e isso a envergonha, estar assim tão exposta e suscetível e disponível.

Ela sente que Ele se despe silenciosamente, sem pressa, sente quando ele se posiciona atrás dela entre suas pernas e sente de uma só vez, toda a dor do mundo, a dor de pertencer quando Ele a penetra com uma estocada só... sem cuidado, sem afeto, sem piedade, se deita sobre suas costas e toma posse do que é seu. Invade seu orifício apertado como se fosse o pátio de sua casa.

Ela grita.

Grita.

Tenta se concentrar na dor e não gritar, tenta se agarrar a um fio de dignidade, tenta prender a mandíbula, arfa, ouve... ouve a respiração Dele, ouve que Ele geme, que Ele fala indecências, ouve que Ele cada vez mais gosta daquilo, ouve o prazer Dele... e isso a intumesce.

Ele goza e o gozo Dele é música.

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